Cuba Sem Barreiras

Garcia, rival de Cielo, é suspenso por um ano e fica fora da Olimpíada

Menon

Pan American Games SwimmingHanser Garcia, o melhor nadador cubano dos últimos 20 anos, está fora da Olimpíada. Por reiteradas ações de indisciplina que afetam seu treinamento, ele foi suspenso por um ano, o que o deixa fora do ciclo olímpico.

O melhor tempo da vida de Garcia nos 100m livres, sua especialidade, foi 48s04 na Olimpíada de Londres, quando ficou em sétimo lugar. Seu maior feito foi a medalha de prata no Pan de Toronto-11, quando marcou 48s34 e secundo César Cielo. Sua última conquista foi nos Jogos Centro-americanos e do Caribe, quando venceu com 49s Foi tratado como herói por haver nadado pouco tempo após se recuperar de uma dengue.

A história de Hanser Garcia e surpreendente. Até os 21 anos ele era apenas o mais rápido jogador de polo aquático de Cuba. Então, foi convidado a participar da Copa Marcelo Salado, o campeonato nacional de Cuba. Quebrou o recorde do país e foi integrado à seleção nacional.

E começou a fazer história. Ainda em 2009, foi o primeiro cubano a nadar abaixo dos 50s, com 49s53. Em 2011, baixou dos 49s e em 2012, alimentou o sonho de baixar dos 48s. Em 2013, no Mundial de Xangai, foi 11º, com 48s4.

Sua carreira foi marcada por uma série de superações. Entre 2009 e 2012 melhorou sua marca de 52s62 para 48s04, algo impensável para quem é considerado um nadador sem técnica. Seu tempo de reação é ruim, o que faz com que seja sempre o último a cair na água. Tem dificuldades com a virada nos 50 metros, mas depois ganhava posições e velocidade de forma assustadora.

Sua preparação sempre era feita fora de Cuba, país que não tem piscina climatizada e nem mesmo um bloco de saída para os nadadores. Garcia e os treinadores, que sempre se deram bem, criaram um bloco alternativo, que o ajudou bastante.

Em 2012, após o sétimo lugar, eu o entrevistei, na Vila Olímpica de Londres. A matéria é a seguinte:

Hanser Garcia, o nadador cubano que surpreendeu a todos conseguindo um lugar na final dos 100m livres era atração na Vila Olímpica. Era muito parado por outros atletas e voluntários que o cumprimentavam. Ele falou comigo, com muita boa vontade, apeser de haver se irritado com a primeira pergunta.

Hanser, antes dessa prova era visto como um pobrezinho de um país pobre e agora está entre os melhores do mundo. Como analisa essa mudança de patamar?

Eu não sou um pobrezinho, não aceito isso. Eu sou um nadador como qualquer outro. Sempre me perguntam de onde você veio, como faz para treina, em qual país você vive e isso me deixa um pouco aborrecido. Sou um atleta como outro e que está muito orgulhoso com o que conseguiu.

Mas as condições de trabalho em Cuba são difíceis, não são?

Em Cuba, nós dizemos que com pouco temos de fazer muito. Com menos conseguimos mais. Esse é o meu trabalho. Podem achar que minha piscina é ruim, mas para mim ela é a melhor piscina porque é nela que eu treino. Vivo em Cuba, vou morrer em Cuba, não quero sair de Cuba e nem trocar de treinadores.

Pode dar um exemplo?

Nós não tínhamos blocos de saída modernos, eram antigos e isso atrapalhava. Então, em vez de reclamar, inventamos uns blocos. Blocos cubanos, entende? Se não tem o melhor, é bom viver com o que se tem.

Mas você treinou no Peru?

Mas isso foi para me adaptar à altura. Depois, fui para a Sérvia para treinar com outros nadadores da minha especialidade porque em Cuba eu sou o único e isso dificulta o trabalho. Estive um pouco em Bermudas também. Mas isso não tira de mim o fato de ser um atleta cubano.

Então, você é a favor do regime cubano?

De política, eu não falo. Eu gosto de nadar, não entendo de política. Mas sou um patriota, tenho muito orgulho de meu país.

Por que você não nadou os 50m?

Porque estou destroçado psicologicamente. Cheguei na final olímpica com o terceiro tempo e terminei em sétimo. Eu queria mais. Eu poderia conseguir mais.

Você está triste porque sua classificação piorou ou porque manteve o tempo de 48s04?

As duas coisas. Uma é consequência da outra. Na eliminatória, eu consegui 48s97 e na semi, consegui 48s04. Foi uma grande melhora. Isso mostra que eu poderia conseguir mais. E não consegui. Os primeiros 25 metros foram muito fortes e eu me senti preso, não foi possível arrancar com força. Isso me deixa triste, mas eu repito que sou finalista olímpico para me convencer que não foi mal.

Como você se analisa como nadador?

Tenho muito o que melhorar. Não tenho boa saida, não tenho boa técnica para fazer a volta para o segundos 50 metros. São coisas que preciso aprender. Mas eu só tenho tres anos de natação e essa é minha primeira olimpída. No último Mundial eu fui 18 e agora fui sétimo. No Rio, eu vou tentar fazer melhor.

O que você conhece do Brasil?

Nunca fui em seu país, que é muito lindo. Conheço Cielo, que é uma pessoa admirável. Conheço as novelas, alguma coisa de futebol e essa música que começa assim. “Nossa, assim você…”

Sem Garcia, as pequenas chances de medalha no Pan de Toronto, passam a ser inexistentes. Três nadadores estão classificados: Armando Barrera, 19 anos,  (100m e 200m costas), Elisbeth Gámez, 18 anos,  (200m livre) e Luiz Veja, 16 anos (400m medley). Além deles, foram conquistadas mais 17 marcas B, o que permitirá a presença de outros quatro nadadores.



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