Veitia, o maior treinador do mundo, se aposenta e não virá ao Rio-16
Menon
Ronaldo Veitia, o mais vitorioso treinador da história do judô feminino vai abandonar a carreira em 6 de dezembro, após a participação da seleção feminina de Cuba em competições na Ásia. O anuncio foi feito por Veitia ao site francês www.lespiritdujudo.com.
Aos 68 anos, Veitia alegou motivos de saúde para sua aposentadoria. Depois de uma carreira de pouco sucesso como atleta, ele assumiu a seleção cubana e fez grandes mudanças no tipo de treinamento. As atletas passaram a receber uma carga de exercícios tão grande com os homens. Veitia sempre foi muito exigente, mas também teve uma relação de amizade com suas atletas. Era um tipo “paizão”.
Os resultados foram espetaculares. A partir da Olimpíada de Barcelona-92, as judocas de Veitia conquistaram 24 medalhas (5 de ouro, 9 de prata e 10 de bronze). A última grande alegria foi com Idalis Ortiz, acima de 78 quilos, em Londres, com medalha de ouro. Ela, que havia sido bronze em Pequim-08, ganhou ainda dois mundiais.
Veitia pesa mais de 160 quilos e perdeu muito peso recentemente. Mesmo assim, alegou motivos de saúde para deixar o judô como treinador.
A seguir, a entrevista de Ronaldo Veitia ao site francês.
Em 6 de dezembro, se disputa o Grand Sam de Toquio. É sua última competição?
Disse que iria parar após os Jogos do Rio, mas por razões de saúde, decidi antecipar. Até as melhores histórias tem um fim e chegou a hora de acabar a minha.
Foi difícil de tomar esta decisão?
Estou em paz porque conversei com minha estrela do esporte, Idalis Ortiz. Nós dois sabemos o que significa, para ela e para mim, o que a preparação olímpica significa. Mas, agora preciso cuidar da minha saúde e preferi confiar esta responsabilidade para outro treinador. Ela entendeu. Minha família também. E no dia 21 de outubro, completei 68 anos e me tornei avô pela nona vez. Acho que foi um aviso. Aposentadoria não é o fim de uma vida, é o começo de outra.
Qual o impacto desta decisão para o judô cubano?
Nada é eterno, tudo evolui e tem um fim. Quero interferir em algumas decisões futuras de quem me substituir. Como diz um grande psicólogo com quem trabalhei, não há nada mais real e concreto do que a verdade que está surgindo a cada dia. Preciso ficar com minha família, que sempre me apoiou.
O senhor disse que iria se aposentar em 2011, mas continuou. O que veio depois de Londres, valeu a pena?
Sim, veio Idalis Ortiz, nossa atleta acima dos 78 quilos. Foi a melhor da Olimpíada. E foi campeão mundial em 2013 e 2014. E em 2015, foi bronze. Assim, ganhei minha 57 medalha em mundiais.
Qual foi seu maior orgulho como treinador?
Foi ver como o judô cresceu. Nunca havíamos ganhado uma medalha internacional. Assumi em 86, depois de perdemos os Jogos Centro Americanos e do Caribe, na Republica Dominicana. O pior foi ver que nos roubaram a medalha de ouro de Yelennis Castilo em Pequim, nos 78 quilos.
O senhor sempre reclamou da falta de condições do judô cubano?
Já imaginou até onde poderíamos ter ido com boas condições? Mesmo assim, conseguimos vencer gigantes como Brasil, Canadá e EUA, com muito mais poder econômico.
O que vai fazer agora?
É o fim de uma era, não é o fim de uma vida. Tenho muitas opções. A prioridade é descansar, mas continuarei a estudar. Judo é minha vida e gosto de trabalhar com garotos. Posso continuar escrevendo livros, já publiquei quatro e quero terminar minha autobiografia que vai se chamar “Ronaldo Veitía Valdivié, histórias de ippon”.